quarta-feira, 30 de abril de 2008

30/04/08


inverno quente

verão frio

bicho confuso


terça-feira, 29 de abril de 2008

29/04/08


chuva forte

prende o coelho

coelho medroso


segunda-feira, 28 de abril de 2008

28/04/08


manifesta o corpo

toma o tempo

ação da natureza



domingo, 27 de abril de 2008

27/04/08


mortes e romances

tragédia desnecessária

buscando a felicidade


sábado, 26 de abril de 2008

26/04/08


calado

bem acompanhado

esconde o seu estilo



sexta-feira, 25 de abril de 2008

25/04/08


o vinho caiu no chão


a mulher gritou

o padeiro xingou


quinta-feira, 24 de abril de 2008

24/04/08


entra e sai

muito apressado

calor infernal


quarta-feira, 23 de abril de 2008

23/04/08


rápido e sagaz

pequeno e inteligente

sumiu ao longe



terça-feira, 22 de abril de 2008

22/04/08


o céu já está escuro

assim como meu sonho

negro e só


segunda-feira, 21 de abril de 2008

21/04/08


olhar curioso

olhava tanto e tanto

que se deu mal


domingo, 20 de abril de 2008

20/04/08


batendo portas

carregando terra

comendo mato



sábado, 19 de abril de 2008

19/04/08


caindo da terra

voando pela nevasca

pulando do mar


sexta-feira, 18 de abril de 2008

18/04/08


gárgula do mal

diz as palavras cegas

no meu inverno


quinta-feira, 17 de abril de 2008

17/04/08


mãe natureza

esverdeada e só

morta por seu filho

quarta-feira, 16 de abril de 2008

16/04/08


farto da vida


bufando na neve luz

folga o ogro



terça-feira, 15 de abril de 2008

15/04/08


gado quieto

minha sombra me destróí

rouba decisões



segunda-feira, 14 de abril de 2008

14/04/08


o homem baixo

matou a natureza

matou a si próprio



domingo, 13 de abril de 2008

13/04/08


quente é o sol

não existe a lua

estrelas queimam


sábado, 12 de abril de 2008

12/04/08


verde natural

igual a natureza

natural louco


sexta-feira, 11 de abril de 2008

11/04/08


meus pés grudados

grudados na árvore

pássaro livre


quinta-feira, 10 de abril de 2008

10/04/08


sol queima lua

estrelas sobre nuvens

meu olho no céu


quarta-feira, 9 de abril de 2008

Os dez mandamentos do haicai

Goga Masuda



I - O Haicai é poema conciso, formado de 17 sílabas, ou melhor, sons, distribuídas em três versos (5-7-5), sem rima nem título e com o termo-de-estação do ano (kigô).

II - O kigô é a palavra que representa uma das quatro estações, primavera, verão, outono e inverno; p. ex., IPÊ (flor de primavera), CALOR (fenômeno ambiental de verão), LIBÉLULA (inseto de outono) e FESTA JUNINA (evento de inverno).

III - Cada estação do ano tem o próprio caráter, do ponto de vista da sensibilidade do poeta; p. ex., Primavera (alegria), Verão (vivacidade), Outono (melancolia) e inverno (tranqüilidade).

IV - O haicai é poema que expressa fielmente a sensibilidade do autor. Por isso,

  • respeitar a simplicidade;

  • evitar o "enfeite" de "termos poéticos";

  • captar um instante em seu núcleo de eternidade, ou melhor, um momento de transitoriedade;

  • evitar o raciocínio.

V - A métrica ideal do haicai é a seguinte: 5 sílabas no primeiro verso, 7 no segundo e 5 no terceiro; mas não há exigência rigorosa, obedecida a regra de não ultrapassar 17 sílabas ao todo, e também não muito menos que isso. E a contagem das sílabas termina sempre na sílaba tônica da última palavra de cada verso.

VI - O haicai é poemeto popular; por isso usa-se palavras quotidianas e de fácil compreensão.

VII - O dono do haicai é o próprio autor; por isso, deve-se evitar imitação de qualquer forma, procurando sempre a verdade do espírito haicaísta, que exige consciência e realidade.

VIII - O haicaísta atento capta a instantaneidade, qual apertar o botão da câmera.

IX - O haicai é considerado como uma espécie de diálogo entre autor e apreciador; por isso, não se deve explicar tudo por tudo. A emoção ou a sensação sentida pelo autor deve apenas sugerida, a fim de permitir ao leitor o re-acontecer dessa emoção, para que ele possa concluir, à sua maneira, o poema assim apresentado. Em outras palavras, o haicai não deve ser um poema discursivo e acabado.

X - O haicai é um produto de imaginação emanada da sensibilidade do haicaísta; por isso, deve-se evitar expressões de causalidade, sentimentalismo vazio ou pieguice.